sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Lançamento conjunto na Feira do Livro de BSB

André Giusti, autor de A Liberdade é Amarela e Conversível, estará autografando seu livro no próximo domingo, dia 29/11, às 19h, na Livraria do Chico, na Feira do Livro de Brasilia, no Pátio Brasil.
Na mesma data, horário e local também estarei lá autografando Entre Facas. Fica o convite para quem quiser bater um papo e trocar idéias.

sábado, 21 de novembro de 2009

Começou a Feira do LIvro de Brasilia

Depois de idas e vindas, finalmente a Feira do Livro de Brasilia deste ano passa de projeto à realidade. A lenga lenga burocrática e de problemas de organização atrapalham, mas quem tem de dar brilho ao evento é o público leitor. Participemos!

Aos bravos e persistentes escritores de Brasilia desejo suerte!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

De Volta

Voltamos com uma boa notícia: Entre Facas foi lançado na Feira do Livro de Porto Alegre neste domingo, 08/11/09, as 15h30 na praça de Autógrafos. Entre os visitantes mais queridos, estava o escritor e professor Charles Kiefer.

A boa notícia, porém, não apaga o fato de que o blog foi retirado do ar como protesto pela utilização de meu nome em site falso e anônimo, produzido para difamar. É uma pena a rede ter este tipo de desinformação por ai...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Entre Facas concorre ao Prêmio Açorianos de Literatura

Pois é, a editora Nova Prova inscreveu Entre Facas nas categorias Conto, Capa e Projeto Gráfico. Vamos cruzar os dedos...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Cronopios

Achei estes dias um site bem legal sobre literatura: chama-se Cronopios, inspirado em Cortázar. Vale a pena dar uma olhada (ô pessoal do Cronopios: depois me agradeçam a publicidade..rsrs)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Lançamento em Curitiba

No próximo dia 28/08, no Café e Restaurante Quintana, será realizado o lançamento de Entre Facas e mais alguns contos. Se os ventos favoráveis soprarem...sul, ai vamos nós.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Brasiliensis V


Do pôr-do-sol na W3 Sul, ao caminho singular até a banca de jornal. Vale a pena descobrir os detalhes da capital. Veja mais...




quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Resenha publicada no Jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, 06/07/09

As Facas Gaúchas

Coluna de Manoel Hygino dos Santos

Uma bela surpresa vem do Sul. Uma escritora nova, nascida em Santa Maria. Liziane Guazina, de quem sequer ouvia falar, apresenta-se em “Entre Facas e mais alguns contos”, pela Nova Prova Editora, de Porto Alegre, no fim do outono de 2009. Com ilustrações de Helena Jansen, exímia em bicos de pena. Antes de tudo, a qualidade material do volume: alto nível. Papel off-set 90 gramas, composição em Times New Roman e Verdana, projeto gráfico e produção visual de excelente qualidade, pelos quais se responsabilizaram a própria Jansen e Regina Pessoal.
Entro nesses detalhes porque o volume é um convite à leitura, como o odor agradável atrai às delícias da mesa. Sergio Caparelli se encarrega de explicar o título, um tanto estranho para uma moça de Santa Maria, embora os gaúchos, historicamente, sejam afinados com facas. Liziane não corta exatamente a carne. Parece, sim, uma especialista em anatomia trabalhando os tecidos para uma sessão de aponevrose, em que os mínimos cuidados são valiosíssimos. Ela abre as cortinas do cenário, apresenta os personagens, diz muito, mas não conta tudo. Ao leitor cabe a tarefa e satisfação de faze-lo, inclusive descobrindo o que não foi dito, mas apenas sugerido.
A autora sabe insinuar. E, para os cortes, usa canivete, punhal e navalha, abrindo os corpos em 22 contos, com linguagem acessível, não vulgar, a palavra própria para a circunstância. Capparelli observa, com razão, que o leitor se descobre parte e personagem do que se narra. Correto. O leitor não é um mero interessado no texto, volvendo páginas do volume. Ele se torna indispensável à interpretação dos fatos relatados. Assim, à medida que repassa pormenores da narrativa, ele se vê gloriosamente constrangido a participar. Sente-se essencial para conhecer o que verdadeiramente a autora sugeriu ou insinuou.
Ela não diz tudo, não abre o jogo integralmente, deixa ao público a missão de ajuda-la, de modo que cada conto se faz um desafio de bom gosto do leitor, que dá sua contribuição, descobrindo minúcias do que se conta. C.M. Zanotta, da Revista Magnum, esclarece: “Pode-se definir fio ou gume de uma faca – ou de qualquer outra ferramenta cortante – como a capacidade que esse instrumento possui em realizar, com precisão, facilidade e perfeição, uma operação de corte em material pré-escolhido. Por precisão, definimos o corte efetuado em local determinado e na profundidade e espessura desejadas; por facilidade, que esse corte possa ser efetuado com um mínimo de esforço ou pressão sobre o instrumento, e a perfeição caracteriza a operação na qual as fibras do material são efetivamente cortadas e não rasgadas ou esfiapadas”.
Liziane confessa: “escrevo com facas na esperança de acertar o ponto de corte”. Consegue. Apanhou seus personagens por ai, capta episódios comuns que vivem ou em que se envolvem, revelando tudo gostosamente. Ou seja, ao gosto do leitor. Este não deve esperar tragédias, mas o drama de cada um, que a autora sabe descrever com talento. O leitor é, enfim, o personagem mais importante nessas histórias. Tem de entrar no amado das situações, conhece-las e descobrir, descobrir-se. Linguagem fluida, moderna, dinâmica e quente. A produção da escritora de Santa Maria é recente. Começou a partir de 2002. Seu sol já brilhou, tem longo caminho à frente porque não teme sequer as atitudes de seus personagens, aos quais não falta o erotismo bem conduzido.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Brasiliensis IV




Estudo sobre a solidão.

Brasiliensis III
















Uma quarta-feira qualquer...revela os encantos da pequena vida cotidiana na capital.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Resenha publicada no caderno Pensar - jornal Correio Braziliense


-->Navalhas na carne
Em três livros de contos, escritores de diferentes gerações enfrentam os dilemas éticos e estéticos do Brasil contemporâneo por meio de narrativas incisivas

Fernando Marques - Especial para o Correio
Correio Braziliense - Caderno Pensar - 20/06/09

Sabemos que os crimes, particularmente o mais grave deles, o assassinato, possuem enorme apelo ficcional, na literatura, no cinema, nos dramas de televisão. No início do século 19, o escritor norte-americano Edgar Allan Poe estabeleceu os primeiros contornos desse amplo gênero, que pode envolver mistério, terror e exercícios dedutivos, ou todos esses aspectos combinados. É claro que muito do que foi invenção se converteu, há tempos, em lugar-comum: as histórias de crime e castigo são tantas vezes mero entretenimento, além de se mostrarem ideologicamente tendenciosas, orientadas para a vitória do herói, representante da boa ordem. Quando isso acontece, elas acabam por dizer pouco ou nada sobre a circunstância dos que matam e morrem. José Rezende Jr., Liziane Guazina e Antonio Carlos Viana, contistas brasileiros e contemporâneos de quem falaremos aqui, não são autores de ficção policial, embora possam flertar, de passagem, com as convenções do estilo. No entanto, importa perceber a atitude incisiva, ao mesmo tempo ética e estética, que demonstram ao enfrentar personagens cruéis, postos em situações limítrofes como a do homicídio. Tais personagens se acham em Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras estórias de amor), de Rezende, Cine privê, de Viana, comparecendo ainda, em menor escala ou em escala diferente, a Entre facas e mais alguns contos, de Guazina. São retratos de criaturas reais que lotam o noticiário, onde raramente recebem tratamento mais do que episódico. Temos acesso direto à consciência desses criminosos, sobretudo nos contos de Rezende e de Viana; os relatos de Liziane mostram-se mais genuínos e intensos quando a autora se ocupa dos pequenos e figurados assassinatos cotidianos. O acesso a essas mentes é dado pelo recurso à narração em primeira pessoa, com o ponto de vista fixado no interior das criaturas, em relatos-monólogos que nos permitem contemplá-las de perto. As feras ou supostas feras não aparecem chapadas como no cinema comercial, nem serão necessariamente punidas em desfechos reconfortantes. O confronto com personagens à margem da ordem moral da classe média, a dos autores e a nossa, não é o único aspecto digno de nota na boa literatura praticada por eles. Mas vale insistir no tema por sua óbvia importância, buscando aferir o que os distingue da ficção conservadora em livros e filmes. Sentimentos contraditórios Na literatura e no cinema convencionais, o assassinato excita os espectadores por constituir quebra da ordem vigente. Afrontadas, a sociedade e suas leis vingam-se dos infratores, depois de uma série de reviravoltas: as dificuldades ultrapassadas pelos protagonistas conduzem afinal à restauração da ordem. Nem sempre se analisam os motivos dos criminosos – o que a literatura mais ambiciosa deve fazer, não para justificá-los, mas para nos ajudar a entendê-los. Ou, quando menos, para exibi-los como de fato são, sem retoques. Os três livros em pauta afastam-se, felizmente, das convenções didáticas. Veja-se, por exemplo, o conto que dá título ao livro de José Rezende. A história é narrada por um bandido jovem que está prestes a matar o seu protetor, espécie de padrasto que o criou depois de ele ter sido abandonado pela mãe (não conheceu o pai). O velho, hoje doente, costumava espancá-lo quando cometia pecados como o de faltar às aulas. Sentimentos contraditórios misturam-se: “O velho batia com gosto e com força, mas mesmo nessas horas o olhar dele era de bondade, eu acho que bater daquele jeito também era um jeito de mostrar que gostava de mim, que eu era bom e que ele ia lutar por mim, ainda que pra isso ele tivesse que lutar contra mim”. O conto discute a questão da índole dos que mergulham no crime. Trata-se aqui de um assassino profissional, e razões sociais também comparecem ao complexo de causas da perversidade: “Ou seja: eu mato pobre. Muito raramente eu mato um rico, a mando de algum mais rico, mas pra matar rico eu cobro dobrado, e é engraçado, porque a coisa que eu mais aprecio é matar rico, por mim eu matava de graça”. Pouco adiante, o ressentimento de classe se conforta quando o personagem diz gostar “de ver a cara deles” na hora em que descobrem “que não podem levar pro inferno a grana que juntaram esfolando os pobres”. Só os cínicos não enxergam o componente social na gênese do assassinato, e o mineiro-brasiliense José Rezende nos auxilia a compreendê-lo com sua prosa límpida, aderente à linguagem provável desses personagens. Registre-se a mestria do autor noutros temas (todos zunindo em torno de amor e morte), como se dá no áspero “Quase nada”, em que paisagem e subjetividade áridas refletem uma à outra, lembrando a tradição em que se engasta a obra de um Graciliano Ramos; ou no belo “O amor surdo, mudo, morto”, onde o casal de surdos-mudos acirra, com suas limitações, a dor das despedidas. A coletânea é o segundo livro do ficcionista e traz 12 histórias de redação madura, precisa. A gaúcha Liziane Guazina organizou seu Entre facas segundo a metáfora das lâminas: as três seções em que se distribuem os 22 contos breves, ilustrados por Helena Jansen, chamam-se “Canivete”, “Punhal”, “Navalha”. Uma história como “Léo e Lia”, na primeira parte do livro, trabalha as ilusões amorosas contemporâneas, que saltam da internet para o encontro pessoal e deste para o casamento, na velocidade dos e-mails. O idílio termina em desastre. Imponderáveis familiares A escritora soa mais convincente e singular, porém, nos relatos intimistas, nos quais os problemas não resultam em episódios ruidosos, mas em atitudes inusitadas como a da senhora de “Manchas no carpete”. A mulher, diante da indiferença do marido, alivia a bexiga em plena sala, numa passagem que lembra o prosaísmo exasperante de Dalton Trevisan. Outro conto a destacar é o da menina espantada com os movimentos do pai a se torcer no banheiro, gestos a que ela assiste por acaso, no delicado “O incidente”. A autora sabe contar nas entrelinhas, isto é, narra sem revelar todos os detalhes ou os deixa velados mesmo no final, o que eventualmente se transforma em saudável desconcerto para o leitor. O melhor é quando a surpresa não acontece como valor em si, mas nos leva a perceber verdades insuspeitadas. Esse é o primeiro livro-solo da escritora. O sergipano Antonio Carlos Viana, autor de outros livros de contos, lançou há pouco Cine privê, com 20 histórias. O segundo texto do livro, “Duas coxinhas e um guaraná”, nos reconduz ao tema do assassinato. Diferentemente do que se passa no conto de Rezende, aqui, no momento em que a história se inicia, o crime já se consumou. O que lemos a seguir corresponde aos pensamentos do protagonista, após matar a própria mãe por asfixia. Fatos e sentimentos não bastam para explicar o crime; são quase triviais, embora nada alegres: sua falta de dinheiro, sua inapetência para o trabalho, o alcoolismo da mãe, que regula caprichosamente os trocados dados ao filho. Embora se revele apreensivo quanto à possibilidade de ser preso, o criminoso não demonstra maior comoção com o ato. O absurdo reside justamente nisto: “Não tinha outro jeito senão apertar o pescoço dela, só pra assustar, mas de repente descobri que era tão bom apertar o pescoço de alguém, os ossos tão molinhos, a cabeça caindo para trás, bem levemente. Resolvi ir até onde meu coração mandasse”. Já o conto “Cine privê”, narrado em terceira pessoa, apresenta a figura de um homem que trabalha como faxineiro em cinema pornô. O que há de repulsivo e, por isso, degradante nas tarefas de Manuel faz pensar nas pessoas largadas nos últimos lugares da fila social. O autor explora precisamente esse núcleo de ignomínias, integrado, até, pela sífilis, que veio a atingir a filha de Manuel e Doralice, Nildinha, nascida com problemas: “A mulher sabe que foi ele mesmo o culpado e isso não tem perdão. Quem falou foi o doutor, e ela ficou, desde então, com um ódio rasgado do marido”. Estigmas coletivos se acrescentam dos imponderáveis familiares. Antonio Carlos Viana exibe pleno domínio de seus textos, que passeiam por diversos assuntos, além dos que dão base aos contos citados. O ambiente de suas histórias alterna-se entre campo e cidade: o contista flagra, com inventividade e eficiência, tanto figuras urbanas quanto campesinas, estas às vezes presas a espaços economicamente estagnados, congelados num país de crescimento impiedosamente dinâmico. Os motes desenvolvidos pelos três escritores estão longe de se esgotar no tema do assassinato. Insisti nele porque os homicídios acham-se tristemente banalizados, cometidos inclusive pelos governos. Disciplinas como psicologia e sociologia nos devem explicações sobre as causas da violência, com vistas a minorá-la – e a literatura pode ajudar no mutirão. --> --> -->
Fernando Marques é jornalista, doutor em literatura brasileira pela UnB. Publicou Retratos de mulher (poesia, Varanda), Zé e o livro-disco Últimos (peças teatrais, Perspectiva) -->

sábado, 13 de junho de 2009

Brasiliensis

O jornalista e contista carioca, radicado em Brasília, André Giusti, lança no próximo dia 16/6, no T-Bone, da 312 norte, "A Liberdade é amarela e conversível", publicado pela 7Letras. André é um dos que fazem parte da resistência cultural da cidade. Vale a pena conferir.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Na Feira do Livro de Gramado

No próximo dia 18/06, começa a Feira do Livro de Gramado, no RS. E a Editora Nova Prova vai estar presente com os lançamentos do ano, inclusive, com Entre Facas. Veja a programação no link.

domingo, 24 de maio de 2009

Dor e Economia

Leia a resenha do livro escrita por Nahima Maciel, publicada no caderno C do Correio Braziliense, em 06/05/2009:

Nahima Maciel

ENTRE FACAS — E MAIS ALGUNS CONTOS
De Liziane Guazina. Nova Prova Editora, 80 páginas. R$ 31. Lançamento hoje, às 19h, no Restaurante Carpe Diem (104 Sul).

Não há texto que não possa ser cortado. Essa ideia é uma obsessão para a autora gaúcha Liziane Guazina. Ela é rápida na escrita, mas lenta no corte. Demora a considerar um texto concluído e só faz isso após eliminar tudo que possa sugerir algum excesso. Dessa prática extraiu o título de seu primeiro livro. Entre facas — e mais alguns contos, que será lançado hoje no Carpe Diem, poderia ter sofrido com os cortes, mas acabou por tirar da fixação uma série de vantagens. “Sou obcecada por escrever e cortar as palavras para tornar o texto o mais essencial possível. Nessa busca me surgiu a imagem da faca como símbolo e fiz a seleção dos textos em cima dessa ideia. São curtos, essenciais e têm relação com a faca”, avisa a autora.
Há ainda uma conexão entre o título do livro e o conteúdo. A violência marca boa parte dos textos, sempre concisos. Tema contemporâneo e repetitivo na literatura brasileira, mas que a autora consegue tratar com embalagem econômica, sem sensacionalismo e sem nunca ser explícita. Se não deixa subentendido, Liziane é seca e enxuta.
No conto que leva o título do livro, uma mulher relembra a mutilação provocada pela própria avó enquanto observa as filhas. Um corte a faca nas costas esconde, na verdade, uma ferida menos sangrenta e mais mortal, o abuso cometido pelo pai, descrito resumidamente em três palavras. “Acho que o grande poder do conto é fazer o leitor pensar sem precisar dizer explicitamente o que se quer dizer, é poder dar múltiplas alternativas. Ao deixar subentendido, a gente diz mais do que se dissesse claramente.”
Também é com parcimônia verbal que o personagem de “As orelhas” decide se automutilar, em texto delicado sobre o envelhecimento. Mesmo quando há alguma verborragia, caso de “Léo e Lia”, ela se apresenta retalhada, como o corpo abatido pela personagem.
O cotidiano e a realidade motivam a ficção da autora. “A gente escreve sobre as coisas que nos incomodam. Esse livro reflete um pouco também minha visão de mundo. Violência e opressão estão sempre presentes na vida da gente, mesmo que a gente não se dê conta. Há várias formas de violência subjacentes à vivência. E o livro tem uma tentativa de tratar com certa delicadeza assuntos mais complicados.”
Radicada em Brasília desde 1993, Liziane recorreu à origem gaúcha para lapidar a escrita. Se diz uma escritora brasileira, mas foi buscar na tradição literária da terra natal os recursos técnicos para a prática.
No Sul, Liziane publicou os primeiros textos nas coletâneas Contos de oficina 29 e Restaurante chinês e outras histórias.
Entre facas já estava pela metade quando Liziane o apresentou ao Programa de Bolsas para Escritores Brasileiros com Obras em Fase de Conclusão da Fundação Biblioteca Nacional, em 2002, e foi contemplada. Para a apresentação gráfica dos contos, convidou as artistas Helena Jansen, responsável pelas ilustrações, e Regina Pessoa. Os desenhos são generosos e aproveitam as narrativas para ser mais que adendos. Em alguns contos, as inserções de Helena Jansen são também personagens, opção que contrasta a delicadeza do traço com a carga dolorida das narrativas.
As Orelhas
Ele ouvira o doutor Dráuzio falar, no Fantástico, que as orelhas crescem conforme os anos avançam. As células continuam se reproduzindo em cartilagens, membranas, peles, apesar - e isto ele sabia bem - de no resto do corpo não haver vontade para tanto. Em particular, para se reproduzir, ironiza, ensaiando um sorriso em frente ao espelho do banheiro. O vapor umedece seus olhos. A espuma de barbear encobre metade do rosto.
Desconfiara. Então as pelancas caem e as orelhas crescem? Nos últimos tempos, percebera uma certa dificuldade para se abaixar, algumas pontadas nas costas impediam movimentos bruscos. Mas ainda caminhava no parque pela manhã e cumpria as funções regulares com a mulher.
No aniversário, ganhara um cartão de presente do neto, com uma foto da família na praia. Custou a se reconhecer naquele sujeito redondo, com uma dobra de carne embaixo do queixo e ar de Papai Noel em fim de Natal, abraçado a uma garrafa de cerveja. Diante de sua incredulidade, o neto abrira um sorriso, como quem diz coitado do vovô.
Mesmo assim, quando acordava, ia ao banheiro na esperança de que o espelho não mentisse. E ele não mentia. Lá estavam os olhos miúdos, a testa sem vincos, os fios retos, indomáveis. Estranho ter-se dado conta apenas agora. O mais nojento de tudo é não avisarem, pensa, enquanto molha a lâmina de barbear no jato de água quente, deixando a espuma perder-se pelo ralo. Um piscar enviesado, um risinho, a fofoca antes de entrar na sala. A mulher, os filhos, os colegas de escritório. Nada.
Às oito em ponto, levantou-se da cama e sentiu o peso indefinido na cabeça. Poderia ser a insônia latejante da noite, as duas garrafas e meia de Cabernet Sauvignon de origem pouco respeitável, o leitão mal digerido do jantar. Cambaleou pelo corredor, buscou o espelho, a testa orgulhosa. Só viu orelhas, duas enormes, abanando-se, risonhas. Trêmulo, iniciou o ritual de barbear-se, fingindo não perceber o inevitável. (continua...)

O processo de produção...

Entre Facas é formado por 22 contos curtos, divididos em três capítulos que remetem a tipos de facas: Canivete, Punhal e Navalha. Alguns contos foram produzidos a partir de exercícios realizados durante oficinas literárias. Outros partiram da experiência diária da autora em cidades em que viveu. Alguns foram publicados na revista eletrônica Bestiário, em sites de literatura, ou em coletâneas de vários autores. Os contos "As Orelhas" e "Léo e Lia" foram finalistas de concursos em Porto Alegre (pela Editora Nova Prova) e Caxias do Sul (Prefeitura Municipal).
A maior parte dos contos foi escrita durante o ano de 2002. O livro foi contemplado com o Programa de Bolsas para Escritores Brasileiros com obras em fase de conclusão da Fundação Biblioteca Nacional também neste ano, quando estava 50% pronto. Foi finalizado e entregue no prazo. Mas o processo de edição dos contos continuou, durando entre 2003, 2004 e 2005. Em 2008, todos os contos foram revisados e chegou-se ao formato publicado. A fase de escrever e organizar durou pouco. Mas a ediçao final só veio muito tempo depois...
Leia um trecho do conto As Orelhas, que faz parte do livro no post acima.

Um livro só lâmina

Leia a apresentação de Entre Facas no site do escritor Sergio Capparelli.http://amaisnaopoder.com.br/